sábado, 29 de novembro de 2008

O poder das palavras

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele" (João 1:1-3).
As palavras têm o poder extraordinário de criar ou transformar a realidade.Reflectindo uma vez mais sobre este facto, permito-me transcrever aqui este belo texto de Saramago:

As palavras são boas.
As palavras são más.
As palavras ofendem.
As palavras pedem desculpa.
As palavras queimam.
As palavras acariciam.
As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas.
Algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são como carraças:
vêm nos livros, nos jornais, nos «slogans» publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes.
As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam.
São melífluas ou azedas.
O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência.
Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e inimigas.
Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam,
julgando pensar o que fazem.
José Saramago (adaptado)

domingo, 26 de outubro de 2008

Caixa de Pandora

Ouve-se muitas vezes a expressão “Caixa de Pandora “ ou “abrir uma Caixa de Pandora”no sentido de algo que, parecendo muito simples e inocente, gera depois consequências imprevisíveis e incontroláveis. Pois bem, o mito da Caixa de Pandora remonta à antiga Grécia e diz mais ou menos o seguinte:
«Prometeu, o homem que se atreveu a desafiar o poder dos Deuses roubando o fogo sagrado do Olimpo, foi, como se sabe, cruelmente castigado pela sua ousadia.
Mas os deuses, sentindo-se vulneráveis perante tal atrevimento, reúnem-se então em consílio para decidir como dominar novamente os homens e como castigar exemplarmente Prometeu.
Assim, decidem oferecer a Prometeu um presente em forma de caixa, dentro da qual colocaram todos os males que se iriam abater sobre Prometeu e os restantes homens. Para fazer a entrega de tão insólito presente, sem levantar suspeitas, Zeus encarrega Hermes de criar Pandora, ("a que possui todos os dons"). Dotam-na então dos melhores encantos: graciosidade, beleza e inteligência ao mesmo tempo que lhe enchem o coração de artimanhas, mentira e astúcia.
A “inocência” de Pandora, sua arte e perspicácia, iludem Prometeu que, apesar de avisado, se deixa enganar por esta. Cumprindo a sua missão, no momento oportuno, eis que Pandora abre a caixa, soltando os males lá colocados. No mesmo instante saíram a intriga, o ódio, a inveja, a vingança… e todos os males que atormentam a humanidade.
Pandora ainda tenta fechar a caixa divina, mas era tarde demais: ela estava vazia, com a excepção da "esperança", que permaneceu presa junto ao fundo da caixa, tornando-se então a única forma de o homem não sucumbir às dores e aos sofrimentos da vida.»
E foi assim que, deste mito, nasceu a expressão "caixa de Pandora", que se usa em sentido figurado quando se quer dizer que alguma coisa, aparentemente insignificante, é na verdade uma fonte de calamidades.
Regressando agora ao presente, e observando o nosso mundo, apetece perguntar: Quem se terá lembrado de abrir agora tal “caixinha”?

sábado, 11 de outubro de 2008


Se não puderes ser um pinheiro,
no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo,
se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo,
sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol,
sê uma estrela.
Não é pelo tamanho
que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor
no que quer que sejas.


Pablo Neruda

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Compreensão

Esperar que o outro dê o primeiro passo significa imaginar-se superior a ele. Coloque-se sempre no lugar do outro. Renuncie por algum tempo à sua opinião, ao seu julgamento, a fim de compreender. Muitos conflitos podem, assim, ser evitados.


Dalai Lama

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Para estas tardes de Outono, nada melhor que as palavras do grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade...


Além da terra, além do céu
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar
o verbo pluriamar,
razão de ser e viver.

sábado, 13 de setembro de 2008

Recomeço

E cá estamos nós em Setembro! Adeus férias... olá rotina! Há que congregar forças e ânimo para um mergulho na realidade!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Nó Górdio

Ouvimos muitas vezes a expressão "nó górdio" como sinónimo de dificuldade insuperável ou problema de difícil resolução, mas ...
vamos aos factos:
Conta a lenda que o rei da Frígia (hoje Anatólia, na actual Turquia) morreu sem deixar herdeiro e que, consultado o Oráculo, este profetizou que o próximo rei chegaria à cidade montado num carro de bois.
A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que foi imediatamente coroado. Para não esquecer o seu passado humilde, ele colocou a carroça no templo de Zeus e amarrou-a com um nó especial a uma coluna do templo, de tal forma que foi impossível desatá-la.
Górdio reinou por muito tempo e, quando morreu, seu filho Midas assumiu o trono. Midas expandiu o império, tornou-se muito rico, mas morreu também sem deixar herdeiros.
O Oráculo foi consultado novamente e declarou que quem desatasse o nó górdio dominaria toda a Ásia Menor.
Passaram-se alguns séculos sem ninguém conseguir desatar o nó, apesar de inúmeras tentativas. Até ao dia em que Alexandre, o Grande, (em 333 a.C) ao passar pela Frígia, ouviu a lenda e intrigado, foi até ao templo de Zeus observar de perto o célebre nó de Górdio. Ficou longo tempo em silêncio e depois de muito pensar, desembainhou a espada e, com um golpe, cortou o nó. O facto é que, tal como profetizou o Oráculo, Alexandre tornou-se, em poucos anos, senhor de toda a Ásia Menor.
Desde então, a expressão "cortar o nó górdio" significa
resolver um problema complexo, de maneira simples mas eficaz.

sábado, 17 de maio de 2008



O mar anterior a nós, teus medos

Tinham coral e praias e arvoredos.

Desvendadas a noite e a cerração,

As tormentas passadas e o mistério,

Abria em flor o Longe, e o Sul sidério

'Splendia sobre as naus da iniciação.


Linha severa da longínqua costa —

Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta

Em árvores onde o Longe nada tinha;

Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:

E, no desembarcar, há aves, flores,

Onde era só, de longe a abstrata linha


O sonho é ver as formas invisíveis

Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esp'rança e da vontade,

Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —

Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O Minotauro


O Minotauro (touro de Minos) é uma figura mitológica criada na Grécia Antiga. Com cabeça e cauda de touro num corpo de homem, este personagem povoou o imaginário dos gregos, infundindo-lhes medo e terror.
Conta o mito que ele nasceu em função de um desrespeito de seu pai ao deus dos mares, Poseidon. Minos, antes de se tornar rei de Creta, havia feito um pedido ao deus para que este o tornasse rei. Poseidon aceita o pedido, mas pede que Minos sacrifique, em sua homenagem, um lindo touro branco que sairia do mar.
Ao ver o animal, o rei ficou tão impressionado com sua beleza que resolveu sacrificar um outro touro em seu lugar, esperando que o deus não se apercebesse. Furioso com a atitude do rei, Poseidon resolve castigá-lo. Faz com que a esposa de Minos, Pasífae, se apaixone pelo touro. E assim da união deste casal improvável, nasceu o Minotauro.
Desesperado, Minos solicitou a Dédalo que construísse um labirinto gigante para prender a criatura.
O labirinto foi construído no subsolo do palácio de Minos, na cidade de Cnossos, em Creta. O rei ordenou então que fossem enviados todos anos sete rapazes e sete raparigas de Atenas, para serem devorados pelo Minotauro. Cansados destes sacrifícios, os gregos enviaram Teseu que se ofereceu voluntariamente para ir a Creta matar o Minotauro.
Ao chegar à ilha, Ariadne (filha do rei Minos) apaixona-se pelo grego e resolve ajudá-lo, entregando-lhe um novelo de lã para que Teseu possa marcar o caminho, desenrolando o novelo e encontrar depois a saída do labirinto
Teseu escondeu-se entre as paredes do labirinto e atacou o monstro de surpresa. Usou uma espada mágica, oferecida por Ariadne, e assim terminou com aquele terrível pesadelo. O herói ajudou a salvar outros atenienses que ainda estavam vivos dentro do labirinto. Saíram todos do terrível labirinto, seguindo o fio de lã.
O mito do Minotauro é um dos mais contados na Antiga Grécia. Era uma forma de os gregos ensinarem aos filhos o que poderia acontecer àqueles que desrespeitassem ou tentassem enganar os deuses.



sexta-feira, 9 de maio de 2008

Palácio de Cnossos,Creta




Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos

E em Delphos centro do mundo

Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta


Ressurgiremos ali onde as palavras

São o nome das coisas

E onde são claros e vivos os contornos

Na aguda luz de Creta


Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo

São o reino do homem

Ressurgiremos para olhar para a terra de frente

Na luz limpa de Creta



Pois convém tornar claro o coração do homem

E erguer a negra exactidão da cruz

Na luz branca de Creta



Sophia de Mello Breyner Andresen

Costa Vicentina, Portugal


sexta-feira, 2 de maio de 2008

Oráculo de Delfos


Segundo a lenda, Zeus, querendo determinar o local exacto do centro do mundo, fez com que duas águias fossem soltas de lugares opostos da terra, até se encontrarem. No ponto onde o voo das duas águias se cruzou, decretou o poderoso Deus que seria o umbigo do mundo e anunciou que ali estaria para quem quisesse pedir-lhe orientações.
Mas a região era dominada por uma serpente gigantesca chamada Piton. Então, o deus Apolo ofereceu-se para enfrentar a serpente, representante das forças irracionais, e derrotou-a num combate memorável.
O deus, vitorioso, sepultou os restos da serpente no local em que se ergueu o templo ou Oráculo de Delfos e onde uma sacerdotisa – a pitonisa – proferia profecias em nome de Apolo. Durante mais de quinze séculos, o Oráculo de Delfos tornou-se um dos lugares mais venerados pelos gregos, sendo que as suas previsões tiveram enorme repercussão nos destinos de muita gente famosa daqueles tempos: reis, imperadores, guerreiros, filósofos, todos por lá passaram, na perspectiva de saber o que o futuro lhes reservava.
Pensa-se que Delfos tenha começado a funcionar ao fim do segundo milénio antes de Cristo, isto é, entre 1200-1100 a.C. e foi encerrado pelo imperador Teodósio, em 385, no momento em que o cristianismo se tornou na religião oficial do Império Romano e o paganismo foi relegado para o domínio da superstição e da mitologia.


sábado, 26 de abril de 2008

Cantiga sua partindo-se

Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
tão fora d' esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

João Ruiz de Castelo Branco (Poesia Palaciana)

terça-feira, 22 de abril de 2008

Poesia de António Gedeão

Viajei por toda a Terra
desde o norte até ao sul;
em toda a parte do mundo
vi mar verde e céu azul.

Em toda a parte vi flores
romperem do pó do chão,
universais, como as dores
do mundo
que em toda a parte se dão.

Vi sempre estrelas serenas
e as ondas morrendo em espuma.
Todo o Sol um Sol apenas,
e a Lua sempre só uma.

Diferente de quanto existe
só a dor que me reparte.
Enquanto em mim morro triste,
nasço alegre em toda a parte.

António Gedeão

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Lenda do Galo de Barcelos



Uma das lendas mais conhecidas de Portugal é a do Galo de Barcelos cuja imagem, de tão difundida, aparece muitas vezes como um símbolo do país:


Conta-se que um peregrino galego que saía de Barcelos em peregrinação para Santiago de Compostela foi acusado de ter roubado umas pratas a um proprietário e condenado a enforcamento. Num apelo final, pediu um encontro com o juiz, que se preparava para comer um galo assado. O galego jurou que, como prova da sua inocência, o galo se levantaria do prato e cantaria. O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo.
Todavia, quando o preso estava a ser enforcado, o galo levantou-se e cantou. O juiz compreendeu o seu erro, correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. De acordo com a lenda, o galego voltou anos mais tarde para
esculpir o Cruzeiro do Senhor do Galo, agora no Museu Arqueológico de Barcelos.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Viajar...

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa, 20-9-1933

Salvador da Baía, Brasil


Santorini,Grécia


segunda-feira, 14 de abril de 2008

Amor é...

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-se ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca, Charneca em Flor (1930)

terça-feira, 1 de abril de 2008

A borboleta

Sentado ao pé de uma árvore, um menino observava atentamente o lento nascimento de uma borboleta. Há algumas horas ela se esforçava para fazer o corpo passar pela pequena abertura em seu casulo. Até que, num dado momento, pareceu ter ido o mais longe que podia; já não fazia mais nenhum progresso.Aflito, o menino decidiu ajudar a borboleta. Com uma tesoura, cortou o casulo e a libertou. O corpo do insecto estava murcho e suas asas, amassadas. O menino continuou a observar a borboleta. Estava certo de que, de uma hora para outra, ela sairia voando. Mas, não foi isso que aconteceu. Na verdade, o bichinho passou o resto da vida rastejando com um corpo fraco e as asas encolhidas. Nunca foi capaz de voar. O menino só quis ajudar a borboleta. Mas ele não compreendia uma coisa: que era justamente por meio do esforço que o corpo e as asas dela se fortaleciam. Que era desse modo que Deus, em sua sabedoria, a preparava para voar assim que a borboleta deixasse o casulo. Também nós, muitas vezes, precisamos passar por situações difíceis na vida. Se não fossem os obstáculos, o que nos tornaria fortes?A vida é assim: pedimos força e recebemos dificuldades para nos fazer fortes; pedimos sabedoria e recebemos problemas para resolver; pedimos coragem e recebemos perigos para enfrentar; pedimos amor e recebemos pessoas com problemas para ajudar; pedimos favores e recebemos oportunidades.Talvez não recebamos exactamente o que pedimos. Mas sempre temos tudo de que precisamos.